sábado, 4 de maio de 2013

O vizinho da cama ao lado!

idosos422.jpg (800×355)

Entrou no mesmo dia para uma operação complicada e ficou uma semana...ontem quando cheguei na hora da visita preparava as suas coisas para partir...Até ali sempre o tinha visto deitado e meio calado, e de fato, pouco atentara nele, preocupada com o meu doente, distraída com o seu "converseio" animado com o outro companheiro de quarto...muito parecido em personalidade e experiências e grande ajuda portanto no passar daquele tempo tão longo e caraterístico dos hospitais...!
Mas ontem não...era impossível não ver...era evidente o seu nervosismo, o embaraço em cada movimento...em cada mexida nos seus pertences...na forma como perguntava uma e outra vez as mesmas coisas a enfermeiras e auxiliares que entravam no quarto, por não ter ninguém que perguntasse por ele e temendo esquecê-las...por momentos meteu-se na conversa com os outros dois que o tentavam ajudar e animar com brincadeiras e da conversa percebi o homem simples que era...e o porquê da tristeza em abandonar o hospital...o regresso era para um lar...não lar da família mas um lar de idosos onde vivia e onde pelas sua palavras sublinhadas pelas lágrimas a bailar nos olhos, vivia muito mal...onde não havia nada, nem os bens mais essenciais...no seu pequeno saco já a enfermeira sorridente e  ternurenta de assistência aquele quarto tinha enfiado à socapa «ainda é hoje que me despedem», um rolo de fita curativa que ele tanto tinha pedido... e na sua carteira uns comprimidos a mais porque nunca lhos compravam a tempo...agora tudo pronto, enfrentava a realidade de ter de voltar para um lugar muito pior do que o hospital...olhava o relógio nervoso com a aproximação da hora «hão-de vir buscar-me cá em cima... pois então!»...Veste o casaco e nas algibeiras de dentro e presas no forro são visíveis muitas coisas...um relógio de grande história e um misto de utilidades que só ali ficam bem guardadas, fixadas com alfinetes, bem próximo de si, ao abrigo de mãos alheias no lar...Despede-se com os olhos marejados..«as melhores felicidades para todos...tento ser um  homem de bem ...educado...só eu sei...» e foi de vozes embargadas que se fizeram as despedidas, e de boné já na cabeça enfrentou a porta para ir aguardar na sala de espera....! Saí duas horas depois... e ele ainda lá estava à espera...colhendo o carinho de quem passava e o tinha conhecido por ali...o melhor sítio onde tinha estado nos últimos anos....!

E é neste país onde tantos já sobrevivem em condições indignas que se fazem discursos como os de ontem à noite e se aplicarão medidas como as anunciadas já para amanhã ...!

Amanhã o vizinho da cama do lado pode ser qualquer um de nós!






25 comentários:

  1. Olá amiga, ando um pouco afastada, mas não me esqueci de ti, tenho andado às voltas com a vida...
    Que história tão triste, depois de uma vida, é esse o valor que algumas pessoas dão à vida humana, são números, são mais uma mensalidade que recebem ao fim do mês, a minha avó no dia em que morreu deixou de ser a dona Emília, pois deixou de dar lucro ao lar onde passou os últimos anos da sua vida e passou a ser tratada pelo "corpo", que tinha de ser de lá retirado o mais rápido possível, porque o "corpo" isto, o "corpo" aquilo, para eles nunca mais teve nome próprio...
    Beijocas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Elsa...é assim que as coisas vão neste país à beira mar plantado...e os mais frágeis e mais desprotegidos são os que mais sofrem... é uma realidade com que convivo muito mal e ontem vim do hospital ainda mais triste!
      E também eu tenho andado aqui às voltas com a vida...não está fácil..mas temos de ser fortes..e casos como este que contei relativizam algumas coisas...!
      Bjs
      Maria

      Excluir
  2. Os nossos últimos dias deveriam ser alegres e em sossego. É uma pena que tantos velhinhos tenham uma velhice tão triste :\

    ResponderExcluir
  3. Infelizmente são os mais carenciados e frágeis os mais afetados pelo estado do país!!!
    Obrigada pela visita e pelo comentário!!!
    Um bom resto de dia!
    Bjs
    Maria

    ResponderExcluir
  4. entendo que com pouco dinheiro não se pode fazer muito, contudo num lar de idoso, ou em qualquer outro sítio pode fazer-se muito com pouco. Se as pessoas têm de estar num lar a trabalhar, a dar assistência porque não o fazem carinhosamente mesmo que não tenham muitos recursos financeiros? Porque não tratam bem as pessoas? se têm de cumprir oito horas de trabalho, não é melhor que o façam com alegria do que mostrando o pior que há nelas. Os idosos não podem ser sacos de porrada. um sorriso, um abraço, uma ajuda são de borla, não se pagam, porque hão-de as pessoas vingar-se, vá lá saber-se porquê, em quem já pouco tem a aproveitar desta vida e mereça paz e sossego. pelo que descreves, o senhor vive aterrorizado. Porque é que quem dirige/trabalha em alguns lares utiliza o medo e a repressão? Não entendo...

    Beijinho e espero que por aí, as coisas estejam bem encaminhadas. Penso muitas vezes nesta situação, porque já vivi uma semelhante. Fazem-me regressar todas as memórias de uma doença tão difícil de entender.

    Tudo de bom

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Alice...situações como esta são infelizmente cada vez mais...o senhor queixava-se da falta de condições mínimas no geral...referindo várias que nem comento por me parecerem indignas, não se queixou de maus tratos físicos, mas também esses acontecem em muitos lares superlotados e com pouco pessoal na maior parte das vezes sem qualquer especialização...mas como dizes a meiguice, as boas palavras e bom trato, não custam dinheiro...e ali no hospital onde esteve uma semana encontrou pessoas carinhosas e atentas...cama,comida e higiene a horas...daí a sua tristeza de partir.
      Por aqui as coisas vão andando, hoje conseguimos reunir a família de novo após uma tarde em que isso já parecia impossível..festejemos o dia de hoje então!
      Beijinhos e obrigada pelas tuas boas palavras!
      Maria

      Excluir
  5. Obrigada Evanir pelas suas boas palavras...um fim de semana feliz de paz e amor para si também!
    Bjs
    Maria

    ResponderExcluir
  6. Que tristeza chegar ao fim da vida assim. Abandonado a um lar e sem condições . Imagina como será para esse homem achar que passou por um bom sítio e esse sitio é um hospital ...Cuidar dos nossos velhotes pode ser complicado, mas esses lugares só mesmo quando não for de todo possível outra situação e sei que pode chegar a isso ,por a situação de doença não ser suportável cuidar em casa ,mas só mesmo em última instância.Mas o tal senhor, pelo que contas, é minimamente autónomo, que triste situação. O carinho é o que mais falta faz na velhice e quantos não têm..:(
    Beijinho e obrigada por me receberes no teu cantinho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tem sido um enorme gosto ver-te por aqui sou eu que agradeço!!!!
      E sim o senhor ainda era autónomo... tinha 80 anos e não sei como foi parar aquele lar mas por certo por não ter mais para onde ir nem posses para escolher outro...doí saber que não é um caso isolado e doí a impotência de não poder fazer nada e ser apenas espectador nesta realidade tremendamente triste...!
      Bjs
      Maria

      Excluir
  7. Fiquei de lágrima no olho, ainda hoje na brincadeira com o meu pai, e antes de irmos a um funeral de um amigo dele falávamos sobre isso, o abandono de idosos...é um assunto que me deixa mal...e eu conheço tantos casos...
    Beijinho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também eu Marina também eu...e ultimamente tenho-me deparado com inúmeros casos novos e isso deprime-me bastante...é uma situação muito muito triste !!!
      Bjs
      Maria

      Excluir
  8. Poça maria, que arrepio... dói na alma.

    ResponderExcluir
  9. Fiquei com as lágrimas nos olhos e com um misto de dois sentimentos: tristeza e revolta.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É precisamente os sentimentos que estas situações me suscitam...e depois a sensação de impotência!!!
      Bjs
      Maria

      Excluir
  10. :( custa tanto, gostava tanto de ter um lugar acolhedor par arreceber esta gente que podia ser qq um de nós ou um familiar.

    obrigado pela partilha, espero q tudo esteja bem encaminhado. bjinho especial

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Também eu gostaria de fazer alguma coisa mas nesta fase nem voluntariado consigo...!
      As coisas estão encaminhadas...vamos ver com seguem!!!
      Beijinhos para ti e para a filhota !
      Maria

      Excluir
  11. Estas coisas tocam-me imenso... Trabalho, na maior parte do tempo, com pessoas idosas na ajuda ao domicílio. Para muitos somos a única visita que têm durante dias e dias seguidos. Quase todos têm as suas doenças- cancro, parkinson, alzheimer, etc- nenhuma delas é fácil. Fico tocada por cada um deles e com os que passo mais tempo, tenho medo de perdê-los de uma semana para a outra.
    A minha melhor amiga idosa, tem cancro nos ovários... quimioterapia 1x/semana, sacos e sacos de medicamentos (incluindo morfina 3 a 4 vezes ao dia) já anda nisto quase à 4 anos. De cada vez que lhe bato à porta e não ouço logo os passos dela, o meu coração acelera! Mas depois, recebe-me sempre com um sorriso enorme e diz-me "Bonjourrr ma petite!" dá-me 2 beijos e eu esqueço-me que ela tem algum problema.
    Num dos fins de semana que tive de serviço, marcou-me uma senhora com alzheimer. Fiquei extremamente triste em sentir ali junto a mim, o que a condição humana é com esta doença. Durante as semanas seguintes sabia que aquela senhora tinha a necessidade de me ter ali com ela todos os dias, a toda a hora. Mas não pode ser.
    O meu coração sofre neste trabalho, mas também enriquece muito com todo o amor que me dão.
    Adoro trabalhar com idosos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bem que sabes do que falo...não sabia o que fazias...mas fico muito feliz pelas pessoas que apoias nesse teu trabalho, tenho a certeza de que sendo como és fazes toda a diferença na vida delas...também sei que isso te afeta, como dizes...mas vale a pena e torna-te tão especial a forma como as ajudas a ultrapassar esses tempos finais tão difíceis...!
      Um privilégio conhecer-te e ver-te passar por aqui como uma companheira de todos os dias!
      Mil beijos!
      Maria

      Excluir
  12. Infelizmente, muitos vivem em condições menos boas e abandonados pela família.
    a minha mãe está num lar e tenho a sorte de só ter coisas boas a dizer de quem lá trabalha, das condições e do carinho e paciência para com a minha mãe.
    beijinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Felizmente Rosinha nem todos os lares são iguais e também os há com condições e pessoal competente e carinhoso como esse de que falas...e é sempre bom ouvir falar disso na primeira pessoa! Pena é que não haja forma de fiscalizar e tornar dignos os muitos armazéns de idosos que têm aliás com a crise tendência a aumentar!
      Um beijinho especial para a tua mãe!
      Maria

      Excluir
  13. Os lares, como única alternativa para muita gente passar a última fase da sua vida, devem ter preocupações além das básicas (que pelo que me pareceu, nem essas eram satisfeitas no caso desse senhor), há muita falta de humanidade no cuidado dos idosos e cada vez mais se assiste a noticias verdadeiramente repugnantes! Um lar deve ser aquilo que nome diz LAR! E não um depósito de pessoas. Entristecem-me bastante este género de situações...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente casos como o que relatei são muitos, com tendência para aumentar e nem muitas vezes conseguimos imaginar em que condições vivem alguns idosos... Fiscalização e apoio à terceira idade não parece no entanto estar na ordem do dia em Portugal...antes pelo contrário...Por agora para quem não tem dinheiro restam como muito bem disseste os «depósitos»...onde muitos passam tão mal o final da sua vida!
      Bjs
      Maria

      Excluir
  14. Respostas
    1. Sim muito triste..e infelizmente muito frequente no momento que por aqui se atravessa!
      Bjs
      Maria

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...